Lembro de Sinésio fazendo o seu trabalho
Com aquele olhar que eu não diria tímido,
Mas até quase que pedindo desculpas por alguma coisa.
“Gente com os olhos no chão,
Sempre pedindo perdão”,
Como diria Vinícius de Moraes
Na letra de Um Homem Chamado Alfredo.
E, no máximo, um BOM DIA ou uma BOA TARDE.
Uma partida repentina, inesperada,
Que nos pegou de calças curtas e descalços.
Ao pensar em Sinésio e nos Sinésios,
No trabalhador e pra lá do trabalhador,
Em mim e além de mim,
Ganhei um bônus para minha consciência de classe.
Hoje aumentou — pra caramba! — a minha crença
De que os céus não são exclusivos para águias & condores,
Nem as savanas foram feitas só pra tigres & leões,
Muito menos os rios abrigam somente os bagres,
E jamais os mares serão cruzados apenas por tubarões.
Pois há outras aves,
Sim — outras que demandam outros firmamentos,
Outras feras,
Sim — outras que perseguem outras caças,
Outros peixes,
Sim — outros que desejam nadar em outras águas.
Não se engane com o que parece ser passivo e sereno,
Sou aquele fogo escondido lá bem embaixo do capim seco
E nada ameno.
Cada vez mais, estou transformando
A minha relha de arado numa espada afiadíssima.
Hoje eu me recuso a ser o eterno escravo
Do determinismo do Fado Capitalista,
Posso sim mudar meu destino,
Falsa cigana,
Vou queimar esse tarô,
Vou fazer minhas próprias cartas,
Vou virar esse jogo!
Texto por: Paulo Guerreiro